Mutuípe, nasceu no Riacho da Cruz
Com a chegada da Estrada de Ferro
Mudou-se para o Mutum
O trem trouxe o progresso
O progresso levou os índios e a biodiversidade
Ficou o Cariri nome de uma comunidade.
Atenção com essa história
E com os índios que se “foi”
Tão dócil que trocaram suas terras
Uma espingarda velha, nove mil réis e vísceras de um boi.
Todo mundo conta assim;
O livro, a Enciclopédia e até mesmo o professor
Já virou música na boca de historiador
Na história da cidade esse é o mito fundador.
Os índios que aqui viviam não existem mais
Os pássaros que existiam vivem em extinção
Não vejo o trem nem a estrada
Só lixo, esgotos – Rio Jiquiriçá cheio de poluição.
O progresso traz sucesso
E também preocupação
Mutuípe é uma cidade
Que mora no meu coração.
To escrevendo essa história
Com saudade na memória
Banho no Rio Jequiriçá, onde aprendi nadar
Das águas limpas à poluição.
Se você quer saber?
Esse rio já foi tão cheio
Que em 1914, quase leva as lavadeiras
Levou os comerciantes: fumo, rapadura, farinha e sabão.
Muita gente correu para as ladeiras
Quem sabia nadar, tentou salvar um pacote de feijão.
Imagine o prejuízo que sofreu a população
Faltou fumo para o cigarro, farinha para o pirão
Faltou açúcar e café, carne-seca no feijão
Quando a enchente passou só se via mulher, lavando roupa sem sabão.
O povo de Mutum era tão organizado
Que logo se recuperou
Era o trem de Nazaré
Que ia até Jequié
Sabe o que ele fazia?
Transportava alegria – sanfoneiro, criança, homem e mulher
Movimentava o comercio de Nazaré a Jequié
Carne-seca, feijão, açúcar, farinha, couro-de-boi e café.
Nessa história tem tropeiros
E até mesmo “coroné”
Tem política, economia
Religião e muita fé.
A história de Mutum está entrelaçada
Riacho da Cruz, enchentes, o trem e a estrada
Tem muita coisa que não deu para falar
Mutum naquela época pertencia a Jequiriçá.
(Oscar Santana)